É uma das únicas coisas que, tenho certeza, carrego desde o começo dos meus dias. A melancolia chorosa pela ausência de uma bicicleta converteu em comentário determinista, fatídico, que corrompeu a esperança de uma existência... comum, e marcou com a cicatriz mais profunda que insiste em não se fechar.
Pode ser fácil saber quando se está feliz. Sentir-se cheio de uma coisa boa que te força, até quando se tenta disfarçar, a contornar as orelhas com os cantos da boca. Estranhamente, exatamente o oposto é difícil de, se quer, pensar em como é.
Pois bem, o que é sustentado agora mesmo, que é maior que o próprio peito é exatamente o oposto das situações normais. Felicidade, completa, irrestrita, que extrapola o vocabulário e chega a sair pelos olhos, é desconhecida. Sempre existem os momentos, geralmente entre amigos, os mais próximos ou os que mais se tem consideração.
Não é sede, não é fome, não é nada fisiológico, apesar de destruir e consumir a fisiologia. Uma coisa que é, sim, é denso. Mais denso que o que pode ser considerado mais denso. Quase um buraco negro que suga a luz, estrelas, corpos celestes, paixões, ânimo, curiosidade, criatividade. Tão denso que suga o intangível, tão denso que suga o impossível, tão denso que deixa impassível.
Extrai toda a vontade pela operação do siso, opera a extração do sorriso. Contabiliza um puta prejuízo e não encontra uma forma de resolver tudo isso. Começa a rimar para tentar melhorar o que já começou errado, pois expor é parecer fraco. E ser fraco dói um bocado.
Dói começar a perceber que a auto-crítica vai muito mais alto que os limites que chegam a ser críticos. Talvez seja essa única vontade; criticar. Tirar de toda a essência um ponto fraco e se deixar submeter-se a si mesmo. Mais estranho do que isso só a contrariedade.
É bom saber que dói, porque quando se dói é um alerta para saber que ainda está vivo. E que por mais que se esconda atrás da opressão, ainda assim é bom saber que está vivo, por carregar a esperança de achar o cadeado adequado para fechar o buraco.
(Desabafo de uma falta de sentido)